ARNALDO ANTUNES CANTA COM CRIANÇAS ANGOLANAS
A BELÍSSIMA MÚSICA " A NOSSA CASA"
Essa linda música como tantas outras de Arnaldo Antunes me fez pensar a respeito da situação mundial e do nosso papel em toda essa calamidade. A convite do publicitário e amigo dos tempos de escola Sergio Guerra, Arnaldo visitou a província de Bié no centro de Angola ( curioso é que seu território tem o formato de um coração ) e lá participou de um lindo videoclipe. Essa região foi muito destruída pela guerra, e as marcas estão presentes até hoje, mas mesmo assim em meio a tanta miséria podemos ver luz através da pureza do sorriso das crianças. Acho que as imagens captadas desta região nos chama a atenção para a miséria, mas ao mesmo tempo para a “esperança”; e principalmente a letra composta por Arnaldo nos alerta sobre o compromisso e responsabilidade que temos como moradores dessa enorme casa chamada Planeta Terra e que para expandirmos esse conceito precisamos agir e sentir que cada lugar que plantamos os pés trata-se de nossa morada e por isso deveríamos ser zelosos e solidários.
Você deixaria alguém passar fome em sua casa?
Você deixaria faltar comida?
Você deixaria faltar comida?
Você deixaria alguém passar sede?
Você deixaria faltar água?
Você deixaria faltar água?
Você daria as costas a uma visita?
Você insultaria sua visita?
Você a deixaria sozinha?
Você jogaria lixo por toda a casa?
Você colocaria fogo em seu jardim florido?
Você expulsaria alguém de sua casa por não concordar
com seu credo, posição política e econômica?
E vocês viram como aquelas crianças africanas receberam sua visita? Sempre cordiais, com um misto de alegria, timidez, surpresa e tristeza, com as mãos pequenas e sujas estendidas a qualquer um que possa dar qualquer coisa mesmo que uma fugaz felicidade.
Por que então ficamos indiferentes a tudo isso? Você pode responder que cuidar de nossa casa é uma coisa. Agora do mundo? O mundo é imenso...já pensou cuidar de todos os seus problemas. Baseados nessa resposta, saiba que realmente o mundo é imenso...mas a sua dor também...porém o seu amor pode ser maior. Um casarão tem muitos empregados, não? Pois é mais fácil de administrá-lo. Vejamos então o mundo como um casarão de contrastes, repleto de empregados de boa vontade que podem intermediar conscientes ou não todas as nossas atitudes fraternas e solidárias; dessa forma o que é imenso parece menor, e o complicado mais simples do que imaginamos. Vamos tentar fazer alguma coisa para minimizar toda a calamidade ao nosso redor, não importa o tamanho do feito, mas vamos fazer, vamos amar uns aos outros, se importar realmente com “a nossa casa”. Eu vou tentar e você?
Diego Rossi
ANGOLA POR SÉRGIO GUERRA E ARNALDO ANTUNES
As parabólicas marcam a paisagem de Angola, principalmente da capital Luanda. Suas imagens se repetem em praticamente todos as regiões do país, em todos os estabelecimentos, em todas as classes sociais e estão registradas no livro "Parangolá - O Paradoxo da Redundância", do fotografo e publicitário Sérgio Guerra (leia texto de apresentação escrito por Guerra abaixo, nesta mesma página).
As antenas, que se alastram e "se proliferam sem nenhum controle de natalidade" - descreve Arnaldo Antunes, em texto que compõe o livro - são reflexo de uma contradição.
Sérgio Guerra viveu anos entre os Hereros, povo seminômade que habita
regiões de Angola, Namídia, Zimbábue e Botsuana
foto do livro Hereros de Sérgio Guerra
regiões de Angola, Namídia, Zimbábue e Botsuana
foto do livro Hereros de Sérgio Guerra
Os angolanos se entusiasmam com a possibilidade de ter acesso a diversas fontes de informação e de se conectar com o mundo. Mas seu país permanece uma nação marginal, esquecida no mundo, e marginalizada, a padecer da miséria social.
O tamanho do entusiasmo, revelado na paisagem através da profusão de parabólicas, pode ser compreendido quando se analisa a história do país. Depois de um longo período de censura e restrição de informação, conseqüência do regime colonial português e de dezesseis anos de tentativa de uma experiência marxista-leninista, o país vive uma economia de mercado, sonha com a universalização e integração.
Mas, em Parangolá, esse sonho se converte em fábula, como aponta o texto do filósofo e geógrafo Milton Santos, fábula esta que faz a mediação da arte com a realidade. Realidade paradoxal, que confunde o acesso às tecnologias e à informação como se fosse garantia de acesso a um mundo menos desigual geopoliticamente.
"Estamos vivendo num mundo confuso e confusamente percebido". As imagens de Sérgio Guerra mostram o que dizem essas palavras de Milton Santos.
Leia abaixo a apresentação de Sérgio Guerra para o livro "Parangolá - O Paradoxo da Redundância":
Sérgio Guerra
Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Essa afirmação aplicada a Luanda é bastante questionável. Será isso um paradoxo ou uma redundância?
Luanda, Angola. Nos últimos quarenta anos de regime colonial português, qualquer forma de cidadania foi negada aos angolanos. A repressão e o controle da informação foram priorizadas como a única forma de manter o status quo. Ninguém teve acesso 'a outra informação, através da mídia, que não a oficial.
Em 1975, Angola conquista a sua independência, e os angolanos, recém saídos do cerceamento português, experimentam, durante dezesseis anos, um modelo socialista marxista-leninista. Em um sistema de partido único, em meio a uma sangrenta guerra civil, a informação passa a ser controlada e direcionada, pelos próprios angolanos, através de um único canal de televisão. Nesse momento a propriedade individual é submetida ao coletivo.
Em 1991, o país adota o pluripartidarismo e a economia de mercado, no entanto mantém-se a exclusividade da emissão à estatal televisão pública de Angola, a antiga televisão popular de Angola.
O pouco tempo para assimilar os conceitos do socialismo, a possibilidade do acesso a informação, a legitimidade do enriquecimento, talvez sejam peças fundamentais para entender o fenômeno que se registra hoje no céu de Luanda.
Nos prédios, nas casas, nas lajes, nas paredes, surgem cogumelos mecânicos. Em tamanhos diferentes eles vão brotando por toda cidade. São as antenas. Antnas de rádio, antenas de televisão, antenas de internet, antenas de telefone.
A redundância e velocidade com que se multiplicam evidenciam grandes paradoxox.
O socialista que não consegue absorver o conceito básico de condomínio.
O socialista que faz da antena um troféu para afirmar o sinal da sua riqueza.
O colonizado que tem no acesso a informação uma conexão para o mundo, em detrimento da infromação local.
São as antenas. Fenômeno suficiente para uma grande tese antropologia. Sim, as antenas, aquelas que repetem e se repetem no céu de Luanda, uma visão muito clara de como a redundância pode ser tão paradoxal.
Quando comecei a trabalhar nesta edição, quis ter no projeto gráfico uma forma que pudesse romper com o padrão de um livro de fotografias. Achei que deveria traduzir essa dualidade de redundância e paradoxo flagrantes nas imagens das antenas.
Um projeto que estivesse equilibrado entre os contrastes e a superposição de apelos visuais, como as cores em que o país se revê todos os dias.
No tempo das antenas, o novo velho tempo da informação globalizada.
Tempo do velho paradoxo da redundância.
Texto original publicado em Parangolá - O Paradoxo da Redundância, de Sérgio Guerra - Edições Maianga, 2004
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