JORGE, O MENINO E O VIRA-LATA
de Diego Rossi
Jorge trabalhou durante anos em uma empresa na Av. Paulista. Almoçava quase todos os dias em um restaurante próximo e tinha o hábito de levar a sobra de seu almoço para o serviço, caso sentisse fome mais tarde. Jorge tinha muito apetite, comia a famosa “Marmitex” e alguma coisa a mais. Porém ultimamente seu apetite parecia ter diminuído, talvez alguma indisposição, problemas no trabalho, não importa. Após a refeição Jorge gostava de parar alguns minutos em uma praça e ler alguma revista ou jornal. Nesse dia, como deve ter acontecido em outros, um pequeno vira-lata muito judiado e faminto surgiu e parou a sua frente. Muito provavelmente sentia o cheiro da comida, mas Jorge não se deu conta, ou se deu, mas o certo é que com aspereza espantou o pobre cão que se foi cambaleando de fraqueza. Minutos depois, em uma esquina, um quarteirão antes de chegar ao serviço, Jorge foi abordado por uma criança de rua acompanhada por um cão. O menino vestia apenas um shorts e um par de chinelos de cada cor, estava magro e com os olhos fundos. O simpático vira-lata ao seu lado não se encontrava muito diferente. O menino pediu dinheiro para comer, mas Jorge racional e cuidadoso imaginou que não seria interessante dar dinheiro àquela criança, pois poderia usá-lo para outros fins que não fosse se alimentar, o que seria difícil pelo estado que se encontrava. Jorge então estendeu sua mão e deu a sobra de sua refeição à criança que agradeceu e atravessou a rua movimentada com seu amigo canino. Jorge sentiu-se de dever cumprido e orgulhoso de seu ato, mas não tinha visto tudo. Ao chegar do outro lado, a criança se sentou em um banco e o pouco de comida que dispunha dividiu com seu vira-lata. Jorge levou um daqueles golpes no estômago, lembrou do vira-lata faminto que espantou e percebeu a pureza e beleza daquele instante que presenciava. Logo tomou consciência definitiva que Deus se manifesta em tudo que vive, e tudo que vive merece ser amado e respeitado. Jorge fez sinal para que a criança esperasse e correu para comprar mais uma refeição.
Precisamos enxergar a vida através do olhar puro de uma criança, ou se preferir através do olhar de um singelo, sujo e faminto vira-lata.
"Todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem... Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida."
São Francisco de Assis
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