Quando criança, na cidade de Timburi-SP todos comentavam a existência de um homem lobo, que nas noites de lua cheia, saía noite adentro a procura de suas vitimas para beber seu sangue, enquanto uivava feito lobo, todos aqui sabiam quem era ele...vamos contar o milagre sem mencionar o nome do santo. Nós éramos amigos de seus filhos, até brincávamos juntos, porem tínhamos em mente que a maldição do lobisomem, segundo dizia os meus avós, um dia recairia no seu filho mais velho. Em assim sendo, a saga continuaria...Esse homem no seu aspecto físico era impressionante, potencializada ainda mais pela lenda que rondava sua figura. Ele era magro, alto, forte, sua pele avermelhada, coberta de pelos brancos, que desciam em seus braços ate o dorso das mãos, suas unhas crescidas pareciam convertidas em garras, seus olhos vermelhos pareciam estar sempre com conjuntivite, quando ele olhava para nós, sentíamos um calafrio e o coração gelar, e todas as sextas feiras de manhã, assistíamos um espetáculo dantesco. Naquele tempo em frente ao antigo campo de futebol, havia um abatedouro de gado, que ao sangrarem o animal, ele, o homem lobo, imediatamente aparando com sua caneca apanhava o sangue que jorrava e levando a boca bebia tudo avidamente, víamos isso aterrorizados. Um certo dia, numa sexta-feira santa, noite de lua cheia, após 22 horas, o Zé Gatti encerrando o serviço de alto-falante, A Voz de Timburi, no cine Sta. Cruz, fez-se um silencio sepulcral, apenas o vento soprava agitando as folhas das árvores. Eu e meus amigos que brincávamos no pátio da igreja matriz, vimos uma tétrica figura se esgueirando ao lado da sua casa, que ficava ao lado do casarão da esquina ( hoje centro comunitário 1 ). Atravessando o portão, ele ganhou a rua empoeirada e mal iluminada e começou a caminhar em passos largos, descendo a rua. Alguém entre nós perguntou: quem tem coragem de ver um lobisomem em ação?...como todos se levantaram, ele completou – então vamos sondá-lo, e assim procedemos, não sei onde encontramos tamanha coragem para tanto, mas começamos a seguir o tal homem lobo, e na medida em que descíamos a rua, a uma certa distância no seu encalço, não havia mais luz artificial, alias, nem haviam postes, somente a luz da lua que brilhava intensamente. Depois de atravessarmos o antigo campo de futebol, ao lado da mangueira do matadouro, tinha uma chácara cercada de pau a pique a qual ele saltou com a habilidade de um lobo. Dentro deste cercado meu pai criava alguns animais, dentre esses animais galinhas do pescoço pelado. Ao chegarmos na mangueira do matadouro, subimos nela utilizando os vãos das tábuas, já em cima, vimos quando o homem pegou uma galinha e em meio aquela barulheira, ouvimos também um longo e tenebroso uivo, no instante em que ele arrancou o pescoço da ave e bebeu seu sangue, apertando-a como se fosse uma laranja. O meu amigo, o mesmo que teve a bendita idéia de seguirmos o tal homem lobo, sussurrou que estava com muito medo, dito isso saltou de cima da mangueira, porém, sua camisa enroscou em um prego e ele ficou pendurado gritando – socorro...socorro, pelo amor de Deus seu lobisomem, não me mate, e não me chupe..., instante esse em que sua camisa rasgou e ele foi para o chão e começamos uma desesperada carreira rua acima, e parecia que quanto mais corríamos, mais sentíamos o fungar do lobisomem na nossa nuca, até que alcançamos a rua do meio, iluminada, olhamos para traz e não vimos mais ninguém parando assim para recuperar o fôlego. No dia seguinte por incrível que pareça, o homem procurou o meu pai e pagou pela galinha, e o uivo que ouvimos lembrei-me, era do nosso cachorro americano que vigiava a chácara. Anos se passaram até que um dia comecei a compreender a razão do estranho hábito desse homem que acabaram criando essa lenda em torno de seus poderes sobrenaturais, e com isso o medo, preconceito, e a superstição das pessoas. Hoje, eu compreendo de como a sua vida devia ter sido atormentada, ele nunca fez mal a ninguém, o que ele possuía era uma rara doença chamada “Porfiria Congênita”, as porfirias são um grupo de doenças genéticas cuja causa é o mal funcionamento da sequencia do grupo Heme de Hemoglobina ( a Hemoglobina é o pigmento do sangue que faz com que este seja vermelho ), o grupo Heme é quem transporta o oxigênio dos pulmões para as células do organismo e qualquer erro na hereditariedade que interfere na síntese do grupo Heme é capaz de produzir as doenças chamadas Porfirias. Agora vamos compreender esse homem, o triste personagem da nossa história.
1) Foto sensibilidade; a luz solar produz sérias lesões na pele
2) Pigmentação. A pele pode apresentar também zonas de pigmentação ou de despigmentação e hirsutíssimo, ou seja, a formação de pelos exageradamente em lugares não habituais, como nos vão dos dedos e no dorso das mãos, com finalidade do organismo se proteger da luz, evidentemente que esses pacientes preferem sair quase que exclusivamente à noite.
3) As porfirias são doenças genéticas incuráveis, mesmo que alguns sintomas não possam ser aliviados, atualmente o principal tratamento para algumas porfirias, é a injeção de concentrados de glóbulos vermelhos ( hemácias ) ou soluções do grupo Heme. O nosso homem naquele tempo logicamente não podia fazer uso dessas injeções, e com a carência de Heme ou ferro fez com que ele desenvolvesse esse estranho habito de beber sangue animal e com isso aliviar os sintomas. Algumas pessoas diziam que ele se imaginava lobo e imitava seus grunhidos, e isso nunca foi verdade porque se ele assim procedesse seria possivelmente o delírio licântropo, uma enfermidade mental que fatalmente leva a pratica de crimes horrorosos pela sua tendência canibal, por sorte o nosso homem em questão nunca teve essa enfermidade que a psiquiatria chama Licantropia.
muito phoda
ResponderExcluirverdade
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